terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mestiça

Sou filha de sangue de um descendente de portugueses, de mãe cabocla, de avó holandesa, tive minhas noites embaladas por outra criança negra que veio do interior de Pernambuco, de uma cidade chamada Limoeiro, trabalhar na minha casa, vivia quando pequena brincando de rodas e de bonecas, pião, bola, pipa e bicicleta, estudei numa escola de tradição católica, mas minha mãe me levava pro terreiro de macumba por que ela era espírita e gostava de dançar lá, participava na rua da casa do meu avô português de quadrilha, com seus balancês, anarriê, alavantour, gosto de banho de mar, de rio e de cachoeira, adoro macaxeira e farinha de mandioca, sou branca, olhos verdes, cabelos com cachos e boca carnuda, minhas formas são arredondadas, mas sou magra, toco alfaia no grupo tambores de quilombo, participo no carnaval do bloco dos esquisitos que sai no Galo da Madrugada, sou bailarina de dança Contemporânea, treino no Recife Antigo, próximo a Rua dos Judeus e do Paço Alfândega, meu sobrenome é Amaral de descendência árabe Al-amar, e Bastos que é um nome de uma cidade portuguesa, mas também de judeus alemães, sou mãe, meus filhos me chamam de mainha, meu marido escolheu uma frase pra mim ele diz que me sinto estrangeira em todo lugar, por que pra onde eu vou as pessoas parecem olhar espantados ou com estranhamento pra mim, já vou responder pra ele que na verdade é meu centro que não está em parte alguma, sou de encontros, de cruzamentos e talvez as pessoas sintam isso, que em mim está o outro, e que eu gosto de ser esse eu, eu é o outro.
                                                                                                                    Carlla do Amaral

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